O novo ensino médio foi aprovado por lei no dia 8 de fevereiro de 2017 no governo do Michel Temer, com o intuito de trazer à educação uma reforma atrativa que diminuísse o abandono aos estudos nessa fase final da educação básica, onde o nível de evasão é muito grande e o desenvolvimento dos alunos possui uma tendência a decair. As mudanças devem acontecer de forma escalonada até 2024.
Uma das mudanças implantadas foi a alteração na carga horaria. Antes, a soma total dos 3 anos deveria ser de 2.400 horas. Agora, com a reforma, as escolas deverão cumprir 3.000 horas. Sendo 1.800 destinadas a conteúdos gerais e obrigatórios para a formação do aluno, e 1.200 destinadas aos itinerários formativos.
Segundo o MEC (Ministério da Educação e Cultura), os itinerários formativos são o conjunto de disciplinas, projetos, oficinas, núcleos de estudo, entre outras situações de trabalho, que os estudantes poderão escolher para aprofundamento em determinada área.
Apenas as disciplinas de matemática e língua portuguesa são obrigatórias pelos três anos. Também foi incluso na grade curricular o projeto de vida, que é voltado para um momento de reflexão a respeito do futuro do estudante por meio de atividades e rodas de conversa sobre vestibulares, mercado de trabalho e todo o restante de suas vidas.
A realidade do ambiente escolar após a mudança
Apesar de implantado como forma de combater a evasão de alunos, o novo ensino médio tem causado insatisfação tanto para os estudantes, como para alguns professores. Muitas escolas não têm estrutura para receber a reforma, e foram obrigadas a trabalhar projetos de forma incompleta, deixando de proporcionar a experiência proposta pelas atividades.
Esse fato transforma toda a mudança em algo vazio, levando em consideração que as estruturas das escolas não são padronizadas. Há escolas que não possuem quadras, não possuem salas de informática ou biblioteca. A incapacidade de trabalhar da mesma forma a educação dos alunos de escola para escola, torna o ensino desigual.
Também os estudantes têm se sentido em desvantagem em relação aos vestibulares que não vão mudar de forma que compreenda a reforma da educação, e aos colégios que não a adotaram da mesma forma, e estão dando mais foco às matérias básicas que caem de fato nestas avaliações tão importantes e estimadas para o futuro do jovem.
Entrevista – professor Carlos:
“Eu não tenho não tenho muito conhecimento das outras áreas do mapa que fogem de humanas. Dentro de humanas, nós tentamos trabalhar o possível para que esteja enquadrado naquilo que o aluno vai usar na sua formação. Mas nada substitui as disciplinas,
e o novo ensino médio impede que disciplinas importantes como: geografia, história, sociologia, filosofia, seja aplicado na sua totalidade nos terceiros anos e em alguns segundos anos. Então é algo que vai com o tempo atrapalhar os alunos. Isso com toda a certeza! Mesmo os professores trabalhando para que os itinerários formativos sejam proveitosos, ainda não é igual a um ensino completo de história, ao ensino de filosofia, e as demais matérias.”
Outra preocupação é que a reformulação do Enem foi adiada. Em 2023, os jovens que se formarão com o novo ensino médio não terão a capacitação necessária para a realização da prova, tendo em vista que grande parte das matérias foram “enxugadas”, de forma que a única opção de aprofundamento é estudando em determinado itinerário formativo.
Muitos jovens ainda não sabem o que escolher para seu projeto de vida. A implementação da reforma é motivo de aflição para aqueles que queriam ter um conteúdo variado nesse momento de decisão, para fazer uma escolha segura, e agora precisam escolher um foco para sua formação.
Com os itinerários, os professores foram designados a lecionar matérias que na maioria das vezes não compreendem suas formações. Considerando que as unidades curriculares que compõem os itinerários são compostas pela mistura de mais de uma disciplina, e tiram o professor da sua área de conhecimento, atrapalhando também o ensino do aluno. Isso fica evidente quando os estudantes estão em sala de aula sem sequer compreender o que está sendo passado, e a importância da matéria apresentada.
É preciso que os professores tenham pelo menos instrução e apoio para compreender as unidades curriculares que compõem o itinerário. Todavia não foi oferecida nenhuma instrução que pudesse explicar de forma exata o que deveria ser trabalhado, e nem capacitação para determinadas áreas, como a parte tecnológica.
Grande parte dos aprofundamentos propostos não são satisfatórios para o aluno. Muitas atividades necessitam materiais que faltam nas escolas, deixando incompleto o ensino que por vezes nem foi a escolha do estudante.
Entrevista - aluno 1:
O que você acha do novo ensino médio?
“Eu acho que no ensino médio faltam muitas disciplinas antigas como química, física e etc. Tiraram todas as matérias importantes para o Enem. Ou seja, nós não temos o conhecimento para fazer um vestibular pra USP, UNESP, entre outras universidades.”
O que poderia melhorá-lo?
“A volta da obrigatoriedade das demais disciplinas e melhor preparo aos alunos para o vestibular, ou aprofundamento em outras áreas além do itinerário, para conseguir mais amplitude nas demais áreas de conhecimento, que são necessárias no mercado de trabalho.”
Entrevista - aluno 2:
O que você acha do novo ensino médio?
“O novo ensino médio foi um incentivo que visava a integração do jovem no ambiente de trabalho. Mas eu acredito que foi algo bem falho por parte do governo, já que a proposta deles era oficinas e empreendimentos que ajudariam a gente a se especializar em áreas que queríamos. Porém no fim eles acabaram jogando várias matérias e desperdiçando potencial de vários alunos e muitos professores com matérias que raramente agregam em um ambiente profissional, e no futuro.”
O que poderia melhorá-lo?
“Para mim, poderia ser feito algo parecido com tipo de estudo que é ensinado nos Estados Unidos. Ter aulas normais até o período do almoço, e na parte da tarde existir clubes ou aulas extracurriculares em que você pudesse escolher baseado em algo que componha seu projeto de vida, como anatomia ou programação. E eu gostaria que as aulas à tarde fossem opcionais. Se você não quisesse escolher alguma coisa específica para uma profissão, você não deveria ser obrigado. Mas deveria sim existir a possibilidade de matérias extracurriculares às tardes, de acordo com as profissões que os jovens mais desejam. E para isso acontecer deveria ser feito uma pesquisa com os jovens previamente, para serem implementadas as aulas mais atrativas no período da tarde.”
Outro motivo de insatisfação é o conteúdo repetitivo e confuso que acaba não aprofundando em quase nada na realidade do adolescente. Isso tem levado o aluno a descredibilizar os itinerários, e deixar de trabalhar aquilo que foi pedido em sala de aula ou faltar a essas aulas.
A carga horária de conteúdos gerais cortada e substituída por uma formação que não tem peso nenhum no currículo após a conclusão do ensino médio desanima o estudante e leva ao abandono aos estudos.
No final, a formação que os jovens têm com esse aprofundamento não serve como ensino técnico profissionalizante, e com a ausência de matérias importantes, defasa a formação geral do aluno
Fica cada vez mais óbvio que os caminhos tomados pelo novo ensino médio dificultam mais e mais a classe trabalhadora a seguir um caminho diferente de sua realidade. O caminho até a faculdade que sempre foi difícil de trilhar por aqueles que só tiveram acesso a um ensino público, fica a cada dia mais desafiador. O abismo entre o ensino público e ensino particular é intensificado a partir da implementação dessa reforma na educação.
É aconselhável que o aluno busque se informar de suas opções após a conclusão do ensino médio. Principalmente aqueles que tem o sonho de ingressar em alguma universidade. É necessário que o aluno não se prenda apenas ao que está sendo passado em aula, e procure se informar e aprender aquilo que será cobrado também nos vestibulares.
É possível matricular-se em cursos preparatórios para o vestibular. Alguns dos cursos oferecem bolsas, outros são online e mais em conta. Também há a opção de estudar gratuitamente pela internet. Há alguns sites que orientam aquilo que deve ser estudado para o Enem, e universidades que disponibilizam uma lista de conteúdos cobrados em seus vestibulares e provas anteriores.
Ao se informar, é possível assistir a aulas de professores em plataformas como o youtube, e se autoavaliar com questões a respeito do assunto, que podem ser retiradas até mesmo dos exames antigas de determinadas universidades, como citado anteriormente.
É claro que infelizmente o caminho é mais longo e exige mais esforço, mas por meio da educação, nós conseguimos mudar a sociedade e a realidade para que a próxima geração tenha mais opções e qualidade de vida e educação.
Também existem cursos técnicos que agregam no conhecimento, tanto para o mercado de trabalho, como também em um possível curso superior futuro. É possível realizar esses cursos gratuitamente em Escolas Técnicas Estaduais (ETECs), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e afins, ou realizar de forma paga em escolas técnicas particulares.
Formas de ingressar na faculdade pública:
Enem e Sisu
o Exame Nacional do Ensino Médio tem objetivo de avaliar o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. É utilizado como mecanismo de acesso à educação superior
A prova é dividida em quatro áreas: linguagens e códigos, ciências humanas, ciências da natureza e matemática, totalizando 180 questões de múltipla escolha. Também é cobrada uma redação de tema escolhido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
Ao optar por fazer Enem, é possível inscrever-se no Sistema de Seleção Unificada (SISU), um programa do governo que permite que quem fez o exame se inscreva para concorrer a vagas em instituições públicas de ensino superior (universidades, faculdades e afins), facilitando o acesso ao ensino superior.
Vestibular convencional
A forma mais tradicional de processo seletivo em faculdade pública é por meio do vestibular. É importante pesquisar sobre o vestibular da sua faculdade/universidade desejada. Cada universidade possui sua própria avaliação. Também é importante ficar atento no prazo de inscrição e na data de realização da prova, que varia entre as universidades. O conteúdo cobrado também pode variar.
As provas podem ser divididas em fases e apresentar questões de múltipla escolha, redação e questões voltadas às áreas de conhecimento do curso escolhido.
Processo de Avaliação Seriada (PAS)
O Vestibular Seriado é considerado uma das maneiras mais fáceis de passar do Ensino Médio para o Ensino Superior. Os candidatos realizam exames como no vestibular tradicional já ao final 1° ano do ensino médio, seguindo ao final do 2° e 3° ano. Portanto o processo de avaliação é dividido em três partes, e cada exame compreende aquilo que foi apresentado ao estudante em seu ano letivo. Isso
exige menos tensão do candidato, facilitando o processo. A opção pelo curso só ocorre no ano de conclusão do ensino médio.
Após a realização das três provas, é elaborada uma média com os resultados obtidos ao final de cada ano e as vagas são destinadas de acordo com a pontuação dos candidatos. Dependendo da universidade, é permitido também que o candidato realize o vestibular tradicional no último ano.
Formas de ingressar na faculdade particular:
Vestibular
Assim como nas universidades públicas, a maioria das universidades particulares também possuem seus próprios vestibulares com suas individualidades. É importante sempre estar atento a data de inscrição, conteúdo cobrado e data de realização da prova.
Com a nota do Enem
Dependendo da universidade, é possível usar a nota do Enem para entrar em uma faculdade particular de forma direta, sem fazer o vestibular.
Neste caso, basta apresentar a nota e, se ela atingir o mínimo necessário definido pela instituição, efetuar a matrícula para começar a estudar. Candidatos com bom desempenho no Enem podem até receber bolsas ou descontos nas mensalidades.
Programa Universidade Para Todos (ProUni)
O ProUni é um programa nacional do Governo Federal que concede bolsas de estudos parciais ou integrais a alunos de baixa renda, tornando possível seu ingresso em uma universidade privada. A nota do Enem é necessária para classificar os candidatos a bolsa.
Os requisitos são:
· Ter cursado o ensino médio em escola pública ou com bolsa integral na rede privada
· Ter obtido pelo menos 450 pontos no Enem, sem zerar a redação
· Ter renda familiar, por pessoa, de até 1,5 salário mínimo (para concorrer às bolsas de 100%) ou de até 3,5 salários mínimos (para concorrer às bolsas de 50%)
· Ainda não ter um diploma de ensino superior
(é necessário se certificar que a faculdade participa do ProUni)
Financiamento estudantil (Fies)
Outro programa do Governo federal é o Fies, que oferece financiamento para os estudantes que desejam cursar uma faculdade particular e não têm condições financeiras de arcar com as despesas.
O estudante recebe um empréstimo que cobre as mensalidades da faculdade em seu tempo de duração, e pode ser pago após a conclusão do curso.
Com um emprego formal após a conclusão do curso, as parcelas do Fies já são descontadas na folha de pagamento. O débito é feito diretamente no seu salário.
Quem não estiver empregado formalmente ao concluir o curso deve pagar as parcelas a partir de boletos do Fies com um valor reduzido. Mas é preciso respeitar o pagamento mínimo mensal, de acordo com o regulamento do programa.
Os requisitos são:
· Estar matriculado em uma instituição de ensino superior particular
· Ter feito o Enem e obtido pontuação mínima de 450 pontos na média das provas e nota superior a zero na redação;
· Não ter diploma de curso superior;
· Estar dentro da renda familiar per capita estabelecida pelo programa (até 3 salários mínimos);
· Não ter financiamento estudantil em andamento.